GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: SOBRE A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO EDITORIAL JORNALÍSTICO
Resumo
Diversas diretrizes educacionais no Brasil recomendam que o ensino de língua portuguesa, nos níveis fundamental e médio, seja conduzido a partir da exploração dos gêneros textuais. Com base nessa orientação pedagógica, o presente artigo procura contribuir para o ensino de português analisando o funcionamento de um gênero em particular, o editorial jornalístico, largamente reconhecido como um dos gêneros apropriados para trabalho em sala de aula. O artigo visa discutir o desenvolvimento histórico de editoriais paulistas, assumindo a hipótese de que o atual editorial provém, em grande medida, de cartas de redator do século XIX. Especificamente, o objetivo é comparar cartas do século XIX e editoriais publicados do século XIX ao XXI, para identificar possíveis aspectos em comum entre as cartas e os editoriais, no que diz respeito ao processo linguístico-textual de organização tópica, um processo central de elaboração de textos, com base na visão de que a presença de tais aspectos nos editoriais poderia ser uma influência das cartas. Examinam-se cartas e editoriais dos principais jornais paulistas, pelo método da análise tópica de textos. Os resultados revelam que, embora normalmente as cartas sigam uma regra de organização tópica e os editoriais sigam outra, há incidência considerável de cartas que seguem a regra típica dos editoriais, reforçando e especificando a hipótese de continuidade histórica entre esses textos. O artigo argumenta que resultados como esses representam contribuição significativa para o conhecimento dos gêneros e, assim, para o ensino de língua portuguesa.