O DISCURSO NARRATIVO NA OBRA MACHADIANA: UMA LEITURA DE “A CAUSA SECRETA”
Resumo
RESUMO: O presente artigo focaliza o papel do narrador no conto A Causa Secreta, de Machado de Assis. Notamos que a voz narrativa assume papel central, tal qual o demiurgo, narrador cujo alcance de seus olhares ultrapassa o mero relato dos acontecimentos. Apesar de o discurso realista exigir certo comportamento objetivo na análise dos fatos, o foco narrado ganha liberdade estética e se constitui como um ponto nevrálgico para se delinear o papel de cada personagem e da trama que os enovela. O Narrador torna-se o porta-voz do discurso decadente da ciência da segunda metade do século XIX, mas estabelece laços com o mundo por meio de seu sadismo autocontrolado e frieza mórbida. A fachada do narrador estampa atitudes aparentemente centradas, formais, atentas e abnegadas, mas que oculta, na contrapartida do discurso, uma pretensa psicopatia no modo de agir. A análise narrativa servirá como suporte, parâmetro de interpretações para evocar aspectos que transcendem a tessitura do texto e ampliem a noção de discurso, intencionalidade e construção do sujeito. Neste artigo, o escrutínio que usamos para compreender esse papel narrativo transcende as velhas correntes estruturalistas que recuperam o enredo como forma de análise formal, prescritiva. Aqui, o narrador é um ente em contato com seus medos e segredos; seus crimes e anseios, enredados num mundo em que as aparências ganham importância e, por trás da máscara, reina um universo psicoemocional rico e profundamente misterioso, cindido.